Nos últimos tempos tudo à minha volta tem convergido para me fazer pensar na separação que fazemos entre a nossa pessoa e os outros. Toda a gente usa, várias vezes por dia, expressões como «as pessoas», «os portugueses», «os europeus», «as mulheres», «os homens», etc., normalmente para nos situarmos em relação - e normalmente numa posição diametralmente oposta e moralmente muito mais bonita - a esses grupos.
Isto faz tanto sentido como aquela anedota dos dois grãos de areia que vão no deserto e em que um se vira para o outro e diz «Psst! Acho que estamos a ser seguidos...».
As pessoas somos nós. E se reconhecemos comportamentos chatinhos nos outros, é porque já os tivémos e graças a [inserir objecto de culto] conseguimos ter o discernimento para os compreender e abandoná-los. Ou não. «As pessoas não respeitam o ambiente» - diz para a câmara de TV o respeitável cidadão carregado de lindos sacos metalizados com compras de Natal em plástico made in China por criancinhas de 5 anos.
Nutra coisa que reparei (e isto aplica-se directamente ao parágrafo anterior) é como é fácil inventar a maldade em tudo o que é exterior ao nosso invólucro de pele. É como olhar para uma parede branca de 2x3 m e o olhar ficar preso no pontinho de tinta preta que está lá. A beleza está nos olhos de quem vê, e a atracção pelo feio também deve ter algo a ver com as tendências do observador. Lá dizia o filósofo que não podemos observar nada sem o modificarmos - e curiosamente mais tarde a Física veio comprová-lo.
Ou seja... ecológicos, ambientalistas, compassivos, simpáticos, prestáveis, íntegros e integrados, generosos, etc., só vale a pena sê-lo por nós próprios, para cumprir com o que queremos ser. Podemos ser muito ecológicos, mas os únicos capazes de ver a verdadeira motivação por trás disso somos nós. Os outros vão ver o que bem lhes apetecer*. So...how ecologic do you feel now;)?
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*O que também se aplica no sentido contrário, explicando o facto de muitas princesas acabarem no estômago de um crocodilo quando na verdade pensavam que iam beijar aquilo que viam como um lindo sapo.
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