Manifesto Neo-Verde

Há uns tempos dei com o seguinte texto no blog Bolinas, do Manuel Rocha. A eco-verde que há em mim teve vontade de lhe bater imediatamente com uma garrafa de PET, reutilizando-a em vez de reciclar, porque reutilizar não gasta energia. Depois pensei nas neoverdices que me encaixam que nem uma luva, e aos meus amigos ecológicamente correctos também. E esta, hein?

«Fruto de um casamento de conveniência entre os burgueses que somos e os cidadãos que gostaríamos de ser, nasceu um híbrido: o neo-verde !
O neo–verde, é o prematuro-mutante-viável de uma tentativa desconseguida de compreensão do sentido da Vida. Prematuro, porque não sobrevive sem um sistema exterior de apoio – os média e os congressos de educação ambiental; mutante viável, porque resulta da evolução possível de quem tentou perceber os fundamentos da ecologia, mas percebeu mal !
O neo- verde tem formação média ou superior e encontra-se disponível em duas versões: light e hard ! O neo-verde light, proclama sempre que pode que é preciso salvar o planeta, compra as fitas do novel-Nobel pela internet e é assinante da National Geografic. O neo-verde hard,vai mais longe: só consome produtos com certificação ambiental equando trocar de carro quer comprar um Honda-hibrido (o Lexus estáfora do orçamento).
O neo verde é a personificação de todas as pseudo-certezas imaturasque atingem os pós-adolescentes tardios . Confunde sabedoria comconhecimento e não distingue conhecimento de informação. Por isso,acredita hoje no aquecimento global e amanhã há-de acreditar noarrefecimento global. O neo-verde é evolucionista desde o Big Bang e além disso conseguiu a proeza de simplificar para dois a complexa fórmula dos três R's – o entendimento neo-verde é que quem recicla, reduz !
Pode-se pois dizer que a cultura neo-verde se caracteriza por umaespécie de neo-provincianismo invertido. Explico: ele sabe exactamenteo que é preciso fazer para salvar o planeta, mas não faz ideia de como se semeia um alho. No entanto, se colocado perante esta dificuldade, o neo-verde tem sempre a resposta pronta: "esse tipo de questão não é linear, tem contornos mais complexos e outro tipo de implicações, e por isso não deve ser abordada de uma forma simplista sem antes se proceder a uma avaliação integral de todos os impactos". E o alho, agradece!
O neo-verde não prescinde da janela panorâmica na marquise, mas quando tiver dinheiro quer equipá-la com vidro duplo. O neo-verde é consumidor de Actimel e está na expectativa de que brevemente a ciência torne biodegradáveis as respectivas garrafinhas. O neo-verde está em permanente dieta de hidratos de carbono, e por isso não vê inconveniente em que com trigo se produza etanol para os motores a gasolina.
Contrariamente ao demodé verde-contestatário, a personalidade neo-verde é por natureza conciliadora: acredita no valor do consenso como menor denominador comum para um futuro melhor, e pauta-se por princípios de uma saudável flexibilidade. Por exemplo: se tiver queoptar entre qualquer questão verde e o cheque do fim do mês, oneo-verde encontra sempre forma de ficar com o cheque !
Ambientalmente falando, o neo-verde é ejaculador precoce, isto é, anda sempre tão excitado com a questão que ao mínimo estimulo debita verdura, deixando o interlocutor sempre insatisfeito. Exemplo: o neo-verde é exímio em conceitos éticos, mas chega sempre atrasado às reuniões.
Para além disso o neo- verde tem bons hábitos sociais e hobbies sustentáveis, tipo sócio de um moto clube que promove passeios de natureza. Assim, num fim de semana soalheiro, procura um pendura tão verde-alface quanto possível, e vão em caravana ver os golfinhos ao zoomarine ou ouvir os passarinhos ao sitio das fontes. Claro que se estiver de chuva, o neo-verde fará como o comum dos mortais: mete-se com a família no monovolume do pai e vai passar a tarde ao Fórum local. Foi exactamente numa dessas tardes em que arrastava indolentemente as solas recicladas pelos reluzentes pavimentos da catedral do consumo, que o neo-verde exultou com a novidade: acabava de ganhar o Nobel !!!
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Vão dar os parabéns ao Manuel ao seu blog: http://manuelrrocha.blogspot.com .

3 comentários:

Manuel Rocha disse...

Pois, pois...

Mas depois se os seus amigos eco-correctos me quiserem dar nas orelhas, espero que não se balde a assegurar-me o direito à defesa em regime "pro bono"...

Leia um post da Palmira no RN sobre sementeiras de ferro no Pacífico...aposto que vai adorar a ideia...esté a ver no que dá esta vaga de neo-verdismos ?

Mais uma sugestão: tem lido os "mitos climáticos" ?

alf disse...

magnifico este post!

eu diria que há as pessoas que se importam, as que não se importam e as que fingem que se importam; as primeiras fazem o trabalho todo e pagam a factura, enquanto que as que fingem colhem os méritos, ou seja, recebem o pagamento do esforço dos que se importam.

E porque é que é assim?

Anónimo disse...

Feliz Natal. Octávio Lima (ondas3)