Eu sei que parece uma coisa que se esperaria ouvir num sketch dos Monty Python, mas não é. Passo a transcrever a notícia, que ilustra duas coisas:
- O dinheiro move montanhas mais eficientemente que a fé;
- Os responsáveis pelas decisões políticas que dizem respeito aos OGM são parvos e acham que o resto do povo também.
A fonte é o site oficial da UE sobre o estado de cada organismo geneticamente modificado que entre na Europa para fins de cultivo, transformação ou alimentação - [link] http://www.gmo-compass.org
Notícia:
Germany: Confusion about new labelling: "Without gene technology" may be "with gene technology" (January 21, 2008)
Os produtos da indústria animal, como o leite, ovos e a carne são geralmente produzidos com a ajuda de aditivos criados por engenheria genética. Apesar disso, no futuro estes produtos podem aparecer nos supermercados com etiquetas que os declaram fabricados "sem engenheria genética". Isto é o resultado de um acordo dentro do Comício Geral dos Partidos que decorre em Berlim, onde os principais interveniententes foram o CDU/CSU e o SPD.
O Ministério da Agricultura da Alemanha já submeteu uma proposta para ser convertida em resolução, segundo a qual produros de origem animal como o leite, os ovos e a carne podem ser portadores da etiqueta "sem engenheria genética" desde que a alimentação dos animais não tenha contido plantas geneticamente modificadas. Mas os aditivos, como aminoácidos, enzimas e vitaminas são permitidos nos alimentos portadores dessa etiqueta, mesmo que tenham sido fabricados com recurso a engenheria genética.
Isto é um pau de dois bicos. Um aditivo alimentar, como uma vitamina, pode ser fabricada com recurso à engenheria genética em laboratório, em caixas fechadas onde as bactérias a produzem, ou em campo, onde é produzida nas folhas ou bagas de uma planta transgénica libertada no ambiente em campos extensos.
Além disso, um animal que não foi alimentado com plantas transgénicas não é necessariamente um animal que não foi alimentado com rações livres de transgénicos. A Lei Europeia prevê que se uma ração tiver menos que 0,9% de contaminação pelo seu equivalente transgénico, não seja considerada transgénica. Mas para todos os efeitos os transgenes estão lá, e como já foi observado em alguns casos, passam para as bactérias da flora intestinal, para a carne, ovos e leite dos animais.
Assim, acabamos por ter carne, leite e ovos de animais rotulados como "sem recurso à engenheria genética" mas que:
- provêm de animais que se alimentam de ração que pode ter até 0,9% de transgenes
- levam aditivos alimentares que podem ser produzidos com recurso à transgenia sem que o consumidor saiba qual o método - confinação em laboratório (inócuo para o ambiente) ou produção em campo aberto (não inócuo para o ambiente)
A rotulação "produzido sem recurso a engenheria genética" é completamente desprovida de propósito já que a maior parte das pessoas nem sabe quais as modalidades de engenheria genética que podem ser usadas. Até os iogurtes e o pão são feitos com recurso a engenheria genética. É um golpe comercial, tipo "frangos do campo" ou "produto natural", sem significado concreto.
Posto que cerca de metade dos transgénicos cultivados para ração animal têm inserido o gene Bt, que produz a proteína Bt, insecticida para as suas pragas, evitando assim as pulverizações contra essas pragas (até ao dia em que elas ganham resistência, como já aconteceu nos USA), mais vale começarem a perguntar:
- O dinheiro move montanhas mais eficientemente que a fé;
- Os responsáveis pelas decisões políticas que dizem respeito aos OGM são parvos e acham que o resto do povo também.
A fonte é o site oficial da UE sobre o estado de cada organismo geneticamente modificado que entre na Europa para fins de cultivo, transformação ou alimentação - [link] http://www.gmo-compass.org
Notícia:
Germany: Confusion about new labelling: "Without gene technology" may be "with gene technology" (January 21, 2008)
Os produtos da indústria animal, como o leite, ovos e a carne são geralmente produzidos com a ajuda de aditivos criados por engenheria genética. Apesar disso, no futuro estes produtos podem aparecer nos supermercados com etiquetas que os declaram fabricados "sem engenheria genética". Isto é o resultado de um acordo dentro do Comício Geral dos Partidos que decorre em Berlim, onde os principais interveniententes foram o CDU/CSU e o SPD.
O Ministério da Agricultura da Alemanha já submeteu uma proposta para ser convertida em resolução, segundo a qual produros de origem animal como o leite, os ovos e a carne podem ser portadores da etiqueta "sem engenheria genética" desde que a alimentação dos animais não tenha contido plantas geneticamente modificadas. Mas os aditivos, como aminoácidos, enzimas e vitaminas são permitidos nos alimentos portadores dessa etiqueta, mesmo que tenham sido fabricados com recurso a engenheria genética.
Isto é um pau de dois bicos. Um aditivo alimentar, como uma vitamina, pode ser fabricada com recurso à engenheria genética em laboratório, em caixas fechadas onde as bactérias a produzem, ou em campo, onde é produzida nas folhas ou bagas de uma planta transgénica libertada no ambiente em campos extensos.
Além disso, um animal que não foi alimentado com plantas transgénicas não é necessariamente um animal que não foi alimentado com rações livres de transgénicos. A Lei Europeia prevê que se uma ração tiver menos que 0,9% de contaminação pelo seu equivalente transgénico, não seja considerada transgénica. Mas para todos os efeitos os transgenes estão lá, e como já foi observado em alguns casos, passam para as bactérias da flora intestinal, para a carne, ovos e leite dos animais.
Assim, acabamos por ter carne, leite e ovos de animais rotulados como "sem recurso à engenheria genética" mas que:
- provêm de animais que se alimentam de ração que pode ter até 0,9% de transgenes
- levam aditivos alimentares que podem ser produzidos com recurso à transgenia sem que o consumidor saiba qual o método - confinação em laboratório (inócuo para o ambiente) ou produção em campo aberto (não inócuo para o ambiente)
A rotulação "produzido sem recurso a engenheria genética" é completamente desprovida de propósito já que a maior parte das pessoas nem sabe quais as modalidades de engenheria genética que podem ser usadas. Até os iogurtes e o pão são feitos com recurso a engenheria genética. É um golpe comercial, tipo "frangos do campo" ou "produto natural", sem significado concreto.
Posto que cerca de metade dos transgénicos cultivados para ração animal têm inserido o gene Bt, que produz a proteína Bt, insecticida para as suas pragas, evitando assim as pulverizações contra essas pragas (até ao dia em que elas ganham resistência, como já aconteceu nos USA), mais vale começarem a perguntar:
4 comentários:
A força financeira de grandes empresas ou nações associadas tem uma capacidade incrível de pressão que reflecte em quase tudo do dia a dia e este é mais um bom exemplo disso! O cartoon acaba por fazer uma síntese perfeita do que se pode vir a passar com a aprovação desta proposta…Beijinhos Kida!
bolas... não podemos confiar em nada nos dias de hoje!!!!! ... fikei mesmo zangada....
bigada pelo aviso
mt luz pa ti
Muito bem, Cara Gaulesa !
Esclarecimento sff: as resistências referidas no último parágrafo já são relativas à proteina Bt ?? Isso interessa-me !!
Se assim é, será de esperar nova escalada da engenharia gentética para criar variantes que contornem as resistências e voltamos ao cilco de ouro dos pesticidas.
Manuel: nos USA os insectos-praga de certas culturas desenvolveram resistência às plantas insecticidas tão rapidamente que agora é obrigatório em cada plantação transgénica ter uma "àrea de refúgio", que consiste numa área cultivada com a variedade não transgénica da planta, de modo a pressão selectiva para insectos com resistência não seja total e se mantenham na população de insectos alguns sobreviventes sem os genes de resistência, de modo a cruzarem com os resistentes e ir mantendo a resistência "semi-diluída". Fora esta medida, já teríamos populações de super-pragas sem problemas nenhuns em morfar folhas temperadas com Bt.
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