O factor "alma"


Por sugestão do professor, espreitei para dentro do meu violino e descobri lá um tubinho que liga as partes superior e inferior, e a que se chama "alma". Sem ela, ele não conseguiria emitir o som de um violino normal.
No mesmo fim de semana, saiu uma notícia que me fez lembrar disto. Hamilton Smith (Nobel da Medicina e Fisioligia em 1978 pela descoberta das enzimas de restrição, hoje amplamente usadas em biologia para análise de DNA) e Craig Venter (fundador do [The Institute for Genomic Research] ) decidiram sintetizar o genoma da bactéria Mycoplasma genitalium (exacto, é aí que ela ataca) de raíz. O DNA é um pouco como a música: é composto de 5 'notas' diferentes que se repetem (Adenina, Guanina, Citosina, Timina e 5-Metil-Deoxicitidina). Imaginem o que custa acertar em 5 números no totoloto e vão ver a quantidade de combinações possíveis que se podem obter com estas 5 notas. Elas combinam-se de modo a formar os nossos genes, as zonas flanqueadoras dos genes, as longas pontas dos cromossomas que protegem os genes no caso de algum cromossoma ser danificado, e as regiões desérticas do DNA onde nenhum gene existe. O DNA não passa de uma pauta bastante confusa mas que tocada por inteiro acaba por fazer sentido.


Assim, não devia ser complicado pegar em todas as notas do DNA (que realmente se chamam "pares de bases") de uma bactériazita e juntá-las pela mesma ordem que ela vem no organismo original, colocar este DNA dentro de uma célula e esperar que ela se portasse como a bactéria. A célula só tem que tocar a melodia, e desde que a pauta esteja certa, não pode falhar.

Foi isso que Craig Venter e Hamilton Smith fizeram. Surpresa das surpresas: o genoma artificial não funciona. Tal como coser partes separadas não bastou ao Dr. Frankeistein para criar um ser humano. Faltou alguma faísca, qualquer coisa que ninguém sabe o que é. Esta experiência feita mais por curiosidade acabou de mandar abaixo o dogma científico de que num organismo vivo a soma das partes é igual ao seu todo. Há quem diga, nos corredores por onde circulam as batas brancas, que é uma espécie de centelha de vida. O factor "alma".
Para curiosos:
Press release: [JCVI]
Notícia: Science & Vie, Março 2008

11 comentários:

Manuel Rocha disse...

Excelente a metáfora!
:)

Anónimo disse...

Péssima a metáfora.
Sugiro a leitura do original em inglês, ou a notícia do Público.
http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1317625

Porquê péssima a metáfora?
Porque construir 580 mil pares de bases, com o mínimo de erros possível, incluindo sequências "estranhas" (watermarks)e esperando que estereoquimicamente a cadeia de DNA seja igual à originalmente sequenciada, que produza as enzimas que esta produziria numa célula normal da bactéria, inserir mecanicamente(?) este cromossoma/genoma numa nova célula (1)e esperar que a bactéria se reproduza não precisa de alma coisa nenhuma. Precisa é de um MILAGRE.

(1) Para que o milagre não seja ainda mais impossível espero que a célula, sem cromossomas, de destino seja também de mycoplasma.

PS- A analogia das combinações possíveis do totoloto com as combinações possíveis de pares de bases do DNA é como comparar um a quantidade de grãos de areia numa mão cheia com o número de átomos no Universo. Péssima analogia.

Manuel Rocha disse...

Osvaldo,

Você anda mais ácido do que eu costumo ...:))

Então o que é a "alma" senão um "milagre", hum ??

Onde anda esse sentido de humor ?!

Anónimo disse...

que maravilha :))

Rita disse...

Caro Osvaldo,

É giro receber uma visita do grupo de fiel seguidores do ateísmo de Dawkings. Eu acho-lhes piada, tal como acho piada às baratas: respeito-as porque são seres vivos, mas não as quero em minha casa.
A notícia do público não refere que o genoma não funciona. Se está tão bem informado vá ao press release do grupo de trabalho e veja o que foi feito em sequenciação para verificar que o genoma era réplica de UM genoma de M. genitalium. Além disso a ideia não era que a bactéria se reproduzisse mas sim demonstrar que podemos criar genomas sintéticos muito grandes, com os genes que nos dão jeito, e pô-los a funcionar. Da mesma maneira que é possível pôr uma E.coli a produzir quase qualquer coisa desde que exista o gene para isso correctamente inserido.
Por favor vá despejar as suas secreções biliares (vulgo fel) para outro lado, aqui chegou a Primavera e não queremos disso. Beijinhos:)

Raquel disse...

Gosto :D

Sim, era da turma da daniela, logo devemos mesmo ter andado na mesma universidade pela mesma altura. ;)

Beijinhos

Anónimo disse...

Pela primeira vez ouço falar de uma alma de violino com forma de tubinho de metal. E eu que já vi tantas e eram todas de madeira. Talvez abra mais o som, quem sabe? Octávio Lima (ondas3.blogs.sapo.pt)

Rita disse...

Pois é! fui pesquisar na nt e a "anima" ´de madeira! Mas parecia tão lisinho no escuro do violino que eu fiquei convencida que era de metal. Olha que bela gaffe LOL. Octávio, onde é que vê muitas dessas diga lá, vai na volta tenho um luthier a vir ao meu blog e pode ser que recorra aos seus serviços quando precisar de mudar o encordoamento...

Anónimo disse...

Aiaiai Rita feriste o meu coração ateu :( ou melhor, espera, as baratas não têm coração ...

Rita disse...

oh tárique, deixa lá...depois da 3ª guerra mundial são as baratas que vão ficar a governar o mundo, toda a gente sabe isso ;)

Ritili disse...

Desde quando é que o DNA tem 5 bases?... Algo me diz que esse curso de biologia já vai longe...

*

Rita