bife à chefa


O Destak não é bem um jornal, é um atentado ao ambiente distribuído de graça e que vive da publicidade e onde, por isso, as notícias são suspeitas de estarem condicionadas à vontade de quem mais paga. Mas mesmo assim achei que valia a pena prestar atenção a uns parágrafos impressos na 6ª feira.

Daqui a pouco os bifes estão tão geneticamente modificados que nem são bifes. Mais uma vez, este artigo vem-nos recordar que a escolinha dá a formação mas não a educação. Lamento ver um membro da comunidade científica achar que vale mais a pena investir na fuga para a frente, respondendo às exigências dos consumidores por mais parvas que sejam, do que na reeducação. (Só por acaso, o mercado da droga também
funciona com base no mesmo princípio). Se calhar a Dr.ª abaixo mencionada acha que com bife feito em laboratório já se poupa o suficiente nas rações para depois tratar a obesidade e a hipertensão da sociedade... enfim... andam os britãnicos a fazer a gastar milhões de libras na campanha das "5 doses de vegetais por dia" [link] e afinal mais lhes valia irem construindo hospitais extra, que hão-de fazer falta.

Como se vê cada vez mais, desde que haja bolsa, há quem trabalhe no caso mesmo que seja para fazer a próxima bomba nuclear. Lamento profundamente esta realidade, porque com a formação e o conhecimento adquiridos esperam-se que venha a ética do saber aplicá-los, seja em que área for.

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Artigo: Sai um bife in vitro para a mesa do canto, 04 07 2008 09.14H [link]

Se é da geração em que acredita que o leite vem dos hipermercados, esta notícia não lhe vai fazer a menor impressão, mas caso tenha pastoreado ovelhas ou dividido a sua infância com uma «Malhadinha», é provável que fique ligeiramente perturbado. Anna Olsson, investigadora e chefe do Laboratório de Ciência Animal do IBMC, no Porto, defende num artigo publicado na prestigiada revista New Scientist, que a forma
mais eficaz de lutar contra a crise alimentar é produzirmos carne in vitro. Segundo defende, é insustentavelmente caro e irracional alimentar um bezerrinho para depois aproveitar do animal apenas uma parte.

Por outras palavras, os criadores à antiga não ganham para a ração, e a alternativa tem sido optar por criações intensivas, onde as condições de vida dos pobres bichos deixam, geralmente, muito a desejar. Uma procura maior de carne, já que não só os ocidentais continuam a consumi-las, como muitos outros povos passaram a incluí-la
na sua dieta, só vai, em sua opinião, levar a que se comece por cortar onde é mais fácil, ou seja, no bem-estar animal. Ou, usando o engenho das técnicas para produzir animais, que dos próprios acabarão por ter pouco: galinhas com mais peito e menos patas, e outros pesadelos do género.

É claro que seria mais sensato deixarmos de comer tanta carne, até porque consumimos três vezes mais proteínas animais do que aquilo de que precisamos, para não falar na gordura animal que nos faz mal, mas a investigadora parece achar que a mudança de hábitos alimentares é mais utópica do que transformar laboratórios em talhos.

Face a isto, e a bem de todas as partes, defende que era inteligente «passarmos por cima dos animais», produzindo carne a partir de células. Arte já desenvolvida na tentativa de criar órgãos para transplante, mas de aplicação mais fácil se o objectivo fosse bifes sem músculo, a parte mais complicada de fabricar. Quanto aos animais ao natural, passariam a existir numa versão afectivo/decorativa. Ou
para comer em dias de festa.

Já estou a ver vacas gigantes de plástico, espalhadas pela paisagem, ligadas a um iPod que mugia por elas. Não sei porquê, está-me mesmo a apetecer uma salada.

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