a pessoa certa

É facto conhecido para uma boa parte dos adultos e para a totalidade das crianças que para coisas importantes, é precisa a pessoa certa. É precisa uma pessoa certa para melhor amigo. É precisa a pessoa certa em quem confiarmos para podemos ter um filho, ou para nos dar a conhecer a banda que nos permite sobreviver à adolescência. Quando as convergências cósmicas não estão afinadas, fica o caldo entornado e a sensação de que foi quase quase perfeito mas... não chegou lá. A pessoa certa na altura correspondente pode ser o fósforo que inicia uma revolução com uma palavra. (Em casos históricos documentados a palavra tomou a forma física de um tiro ou um murro bem assente).

Esta semana aconteceu-me uma coisa que nunca pensei que poderia acontecer: encontrei a pessoa certa para me fazer gostar de poesia. Juro que a estrofe nunca me caiu bem no gôto como forma de expressão, sabe-se lá porquê. Mesmo o Fernando Pessoa e todos os seus heterónimos não me conquistaram como poetas, admirava a lucidez por trás da escrita mas não os versos.

Enviaram-me um livro de poemas misturado com outros que tinha pedido, apesar de eu já ter jurado a pés juntos que não gostava de poesia - o que nem se deve dizer porque parece uma blasfémia. Qual livro? Este:

Veinte poemas de amor y una canción desesperada

Eu li, e quando cheguei ao fim percebi que o tinha absorvido como se fosse a prosa mais cativante que já me caiu nas mãos, uma mensagem disfarçada em canto como as raparigas casadoiras faziam para enviar as respostas aos namorados quando o mundo era mais pequeno. Por isso reli, para ter a certeza que não me escapou nada.
Ah Neruda, que falta me fizeste sem eu saber que existias.

Adoro poesia. Finalmente. É «claro como uma lâmpada, simples como um anel». :)

3 comentários:

Manuel Rocha disse...

Ou o que a vida numa ilha pode fazer a uma bióloga ...:))

Por este andar não demoraremos a ler por aqui uma ode às cagarras.

;)

Denise disse...

Olá Rita,
Vim espreitar o seu estaminé a propósito de um comentário que deixou no texto do Manuel sobre AB/AT/AI e zás!, eis que encontro um post sobre o deslumbramento de quem se encontra com, na e pela poesia pela primeira vez.
Pelo que percebi é ou está a morar nos Açores. Aproveite a onda esfusiante e (re)leia grandes artistas do Verbo como Roberto Mequita, Bernrdo Macial, Botelho Rilley,Antero (claro)... ou mais recentes como E. Felix, Nemésio, Natália Correia, Bettencourt Pinto ou Luísa Ribeiro...

Dou-lhe os parabéns pelos blogues. Gostei particularment do Plantology ;-)

E entretanto confesso ter ido procurar o significado de «cagarra». Ó diacho, que para mim é tudo gaivota (para não dizer pássaro)! :)))

RUTE disse...

Ai é? Neruda também já te apanhou? Eu gosto muito de poesia (inclusivamente dos heteronimos de Fernando Pessoa).

E "O carteiro de Pablo de Neruda"? Já leste?

Não foi escrito por Neruda e não é poesia, mas é de um encantamento, duma beleza inocente apaixonante...
Neste livro brincam com as palavras e com a poesia duma forma muito engraçada à medida que Neruda ensina o seu carteiro a escrever à sua amada.

Se quiseres envio para ti o livro, faz parte da minha lista do bookcrossing.

Ainda me falta ver o filme que não encontro em lado nenhum. Apenas consegui uns excertos no Youtube.

Depois diz se estás interessada no livro...enviei-te um mail ontem.

Beijinhos.