A cidade morena

Lisboa é e vai ser sempre a cidade mais linda do mundo, para mim. Não me interessa que a considerem suja (vão a Manchester), agressiva (estamos nos 9 países + seguros do mundo), que digam que as pessoas são distantes (eu gosto de passear comigo mesma), arrogante (acreditem, não pensamos mal do resto do país, nem nos lembramos que ele existe), beneficiada (err... é a capital, a alguma tinha que calhar), etc. Eu adoro Lisboa, os passeios brancos com desenhos dos monstros marinhos das lendas dos descobridores, os cais de onde saíram as caravelas, as palmeiras centenárias nos jardins. Sinto-me em casa no Bairro Alto onde posso ir comer um caldo verde depois de uma saída nocturna e ele parece feito pela minha mãe. Adoro a sensação de estar sozinha no meio de uma multidão cujo colorido não incomoda ninguém e passar despercebida.
Adoro a iluminação de Natal da Baixa, nunca houve um ano que não fosse lá de propósito para a ver. E os jantares de estudantes em tasquinhas da Mouraria. A panóplia de lojas asiáticas que se encontra quando se sobe desde o Martim Moniz, e que já fez amigos de outras terras portuguesas perguntarem-me se era seguro estar ali. Adorava ir estudar para o Castelo de S. Jorge no 1º ano da Universidade. Agora já não se faz isso porque se passou a pagar para entrar no Castelo.

Há 860 anos também não estava a ser fácil entrar no Castelo. Nem pagando. Em 24 de Outubro de 1147, os muçulmanos que construíram e viviam no castelo de Lisboa foram forçados a sair depois de uma batalha de dias com uma multidão teimosa e alguns Cruzados em tour. Não sei se em nome de Deus, de Cristo ou em nome de um povo que precisava de se expandir por causa de uma força interior recém descoberta.
Do lado oposto ao rio, onde viria a ser a Mouraria, conta-se que o soldado Martim Moniz morreu esmagado para que os mouros não pudessem fechar as portas. Deu-se o nome dele à praça que se construiu desse lado na base da colina. Há 860 anos, os mouros foram postos fora do castelo e este foi baptizado castelo de S. Jorge.

Diz-se que mais tarde foram empurrados para sul e expulsos até do Algarve, esse povo de olhos como poços sem fundo. Mas eu acho que eles ainda vivem nos nossos traços, na linguagem, na fúria do sangue, e na calma com que aceitamos o fado que a vida nos põe à frente. Pelo menos em Lisboa, vivem nos cabelos escuros e olhos castanhos com que me cruzo todos os dias. Vivem no meu espelho. Até na minha pele, permanentemente morena, mesmo no pico do Inverno.

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Árvores'R Us

Para quem já teve um filho, escreveu um livro e ainda se sente incompleto;

Ou para quem tem uma pegada de CO2 equivalente à do Godzilla;

Ou para quem, como o António Lobo Antunes, estava severamente deprimido na crónica da Visão da semana passada ;

Ou para quem tem uma prenda de aniversário para dar e está sem imaginação;

Ou para quem acha que elas nunca são de mais mas não tem espaço para uma:

Eles plantam por nós.
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^o_o^

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good old Chantilly

Os gatos podem ser a sombra do sonho que a insónia não nos deixa sonhar

Os antigos egípcios tinham razão. Chamavam-lhes os videntes da noite, reconhecendo a divindade que eles mostram no porte. Eu não me canso de os olhar. Quando era pequeno, brincava com eles, e a minha mãe dizia que era o mais mal comportado do grupo. Depois, conheci muitas «velhas dos gatos», feiticeiras deles rodeadas, que gastam a pequena pensão que recebem em comida para lhes dar, esquecendo-se elas próprias de comer. Vi então que os gatos podem ser a sombra do sonho que a insónia não nos deixa sonhar.

Quando retratou Olympia, Manet pôs-lhe aos pés um gato preto, que olha como se existisse só para isso e com cuja cauda desenha um altivo ponto de interrogação que resume todas as perguntas do mundo. Alberto Giacometti esculpiu «le chat» como se o alongasse para ele vir até nós. A arte, de Leonardo a Picasso, gosta de gatos. E, às vezes, teme-os. De Montaigne a Baudelaire e a Eliot, a literatura também está cheia de gatos. Mallarmé tinha um gato chamado Neige, que (dizia ele) com a cauda apagava os seus versos. O gato de Borges respondia ao nome de Beppo, embora me digam que os gatos devem ter «is» dentro do nome. E, de Mozart a Rossini e a Satie, ouvem-se gatos na música e vêem-se gatos no teatro, no cinema, na fotografia.
Entre nós, Stuart apanhou os gatos famintos e atrevidos do Bairro Alto e de Alfama. Milly Possoz fez deles a sua obsessão e a sua companhia. Fialho ligou-lhes o nome para sempre e Pessoa fez do gato o símbolo da felicidade autêntica, a que não se nomeia. Quem os lê nunca mais esquece aqueles versos que começam: «Gato que brincas na rua/ Como se fosse na cama,/ Invejo a sorte que é tua/ Porque nem sorte se chama.» Agostinho da Silva falava e o gesto da sua mão andava sobre o gato, como um barco sobre o mar. Cesariny, que escreveu o Jornal do Gato, tinha-os em casa e mandava pôr anúncio no jornal quando morriam. Vieira da Silva, que era chamada «bicho» pelo marido, Arpad, deixou a Cesariny um quadro intitulado Mário le Chat. Os surrealistas adoravam gatos e viam neles a liberdade livre de Rimbaud. Que o diga Leonor Fini!

Agora, conto a minha história recente. Ela começa quando uma gata fica sem a dona, que morre. Miava de saudade e de fome pelos quintais e nós demo-lhes comida uma vez. Essa vez foi-lhe esperança de mais vezes e a sua assiduidade à nossa porta passou a ser retribuída com o que ela esperava. Já se disse que não somos nós que escolhemos um gato, é ele que nos escolhe. Assim aconteceu: fomos escolhidos por ela. E por aqueles que a acompanharam. Todos os dias, à hora das refeições, ei-los ali à espera, silenciosos e eloquentes, como o Marcel Marceau que nos acaba de deixar. A gata que descobriu este filão é a única excepção ao silêncio. Mia como quem tem um grito na voz e possui o sentido trágico da vida. Se eu fosse um pouco mais antropomorfista, lembrava-me da Callas ao vê-la. É que ela faz do jardim um palco e, em cada passo, há a certeza do terreno conquistado. Mas, como na Callas, tudo nela converge para uma fuga que não podemos seguir.

Num destes dias, contei sete gatos à minha espera. Protejo-me com este número sagrado e digo que estas coisas não acontecem por acaso.
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another one bites the dust...

X
2.................1
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Blog Action Day - Edible decoration (Decoração comestível)

Bloggers Unite - Blog Action Day



Como prometido, hoje é dia de todos escrevermos sobre ambiente. No site blogactionday.org já há registos de posts de todo o mundo com títulos como "Adopte o Céu", "Efeito Borboleta" e "Coisas que eu nunca pensei que se podiam reciclar".



Eu resolvi cumprir a minha parte acrescentando mais uma dica à eco-lista It's so Easy Being Green que tenho andado a fazer em conjunto com vários bloguistas.
Tenho muitas plantas em casa, e tirando 2 ou 3 aromáticas, todas são apenas decorativas. É um ambiente agradável, mas ocorreu-me que já que estou a gastar água com elas, ao menos deviam ser...comestíveis!

Por isso, comecei a doar as minhas plantas decorativas e a arranjar rebentos ou sementes de plantas comestíveis. Posso intercalá-las com flores nos canteiros, flores das que espantam a bicharada nas hortas biológicas, e ficar com a casa a cheirar a aromáticas por todo o lado!
E pensam que as plantas comestíveis não podem também ser decorativas? Olhem estes exemplos:
tomate-cereja

mirtilos

morangos

....Próximas aquisições: calêndulas, couves portuguesas, cravos da Índia, um canteiro de cenouras para serem colhidas pequeninas e tenras, basílico para fazer pesto, beldroegas, uma planta de beringelas e uma de framboesas:)...ler tudo>>

A Natureza

...tem coisas lindas.
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Blog Action Day - 15/Oct


No dia 15 de Outubro, 2ª feira, o maior numero possível de blogs vai falar sobre um único assunto importante em todo o mundo. Em 2007 o assunto escolhido é o "meio ambiente". Todos os blogs podem falar do assunto dentro do seu proprio âmbito. A ideia é de que todos falem sobre um futuro bem melhor.
Inscrevam-se (para contabilizarmos os resultados) e participem em: http://blogactionday.org/pt
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Frangos

...É isso que eu faço. Esqueçam o Bióloga.

...Nos últimos 3 meses tive gente a dizer-me que:
1) esperam que nenhum cêntimo dos seus impostos vá para me pagar porque aquilo que eu faço não é um trabalho a sério e não produz lucro (por uma licenciada em Português-Inglês):
2) afinal o que é que faz um biólogo? (por um farmacêutico);
3) se sou bióloga, então dou aulas no secundário, não é? (pela senhora onde fui arranjar as unhas)
4) quem quer emprego a sério tem que se mudar de área (pelos pais de um colega que acabou agora um projecto de 14 meses de investigação)

...Sem contar com todas as que já ouvi desde o 12º ano...

...De todas as vezes tenho-me limitado a explicar qual a minha área de investigação e a coisa fica por aí. Mas ontem achei que tinha atingido o meu limite. Fui fazer queixinhas à minha mãe pelo telefone e ela disse-me para contar até 10 antes de pôr plantas tóxicas da flora portuguesa na sopa dessas pessoas. Ia ter piada mas não passava disso. Também me disse que se eu não fosse bióloga, ela própria era capaz de não saber o que faz um biólogo. Que para a mente portuguesa (e suspeito que não só) um cientista ainda é uma coisa brilhante e inatingível que habita nos USA ou no Japão, e que é impossível que a pessoa que têm à sua frente o seja. Deve ser a bata...

...Na verdade o que me apetecia responder a essas pessoas é que alguém investigou quais as moléculas ideais para criar a sopa desidratada, alguém estudou a pata da osga para podermos ter super cola forte, alguém andou à volta de muitas aranhas para se desenvolver uma fibra de seda hiper resistente, e alguém nalgum ponto do espaço e do tempo estudou e experimentou com alguma coisa que deu origem às pílulas, aos guronsans, aos benurons, às tintas para o cabelo, aos cremes de noite e aos bifidus activo que consomem diariamente. E não foram os médicos que lhes escrevem as receitas. Foram biólogos, bioquímicos, engenheiros biotecnológicos.

...No fim da conversa a minha mãe disse-me para não me irritar com essas perguntas, principalmente quando já vêm com uma ponta de má intenção, responder simplesmente que o que eu faço é complicado demais para estar a explicar.

...As pessoas fora da área científico-tecnológica estão para os produtos da biologia como os putos da cidade estão para os frangos: acham que nascem nas prateleiras do supermercado. Por isso, a partir de agora quando me perguntarem, digo que é isso que faço: FRANGOS....ler tudo>>

É bom ser um principiante

chantilly
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A revolução é individual ou não é revolução

"...A quintessência da revolução é a do espírito, nascida da convicção intelectual da necessidade de mudança naqueles em que as atitudes e valores mentais que determinam o destino do desenvolvimento de uma nação. Uma revolução que tenta apenas mudar as políticas oficiais e instituições com o objectivo de melhorar as condições materiais tem poucas hipóteses de sucesso genuíno.
...Sem uma revolução no espírito, as forças que criaram as desigualdades da velha ordem mundial vao continuar operativas, constituindo uma ameaça constante ao processo de reforma e regeneração.
...Não é suficiente apenas gritar pela liberdade, democracia e direitos humanos. Tem que haver uma determinação conjunta de preserverar na luta, de fazer sacrifícios em nome de verdades superiores, de resistir às influências corruptas do desejo, má vontade, ignorância e medo."
Aung San Suu Kyi, Prémio Nobel da Paz, em home-arrest na Birmãnia. Não que ela tenha levantado alguma vez um dedo contra o regime. Mas levantou a voz, e a sua presença e atitude de resistência pacífica tem dado força aos birmaneses para não se rebaixarem à ditadura militar que os domina . Às vezes basta um bom exemplo.
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